sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal Cenamo

Fazia tempo que o Natal Cenamo não era tão gostoso!

De novo eu aprendi que comunicar é a melhor saída para qualquer problema. Ô, liçãozinha que eu sempre esqueço!

Eu estava incomodada que, desde que a Vó morreu, o Natal Cenamo tinha virado uma ceia curta, que acabava cedo, com um amigo secreto miado ou inexistente, porque todo mundo acabava indo para as suas outras famílias passar o resto da noite (sendo que muitos iam também no almoço do dia 25). A nossa família, que sempre tinha sido um Natal que eu adorava, com brincadeiras, jogos, coral, muita companhia, enfim, tinha ficado pra trás. Meus primos não vinham mais, meus tios iam embora cedo, e a gente encerrava tudo rápido para ir pro Natal Salles (que eu também adoro, mas detesto a coisa corrida).

Ontem, por acaso, à tarde, eu comentei exatamente isso com a minha mãe (escondendo uns olhos que chegaram a lacrimejar), que comentou com minha tia, que comentou com suas filhas, que tinham a mesma opinião que eu, e que queriam que o nosso Natal fosse bom de novo. E foi.

Não que não tenha tido conflitos, que essa família de italianos é um drama só, pior que desperate housewifes ou brothers and sisters, toda vez que a gente se encontra tem conflito. :) Mas tudo bem. Porque tem amor também.

Brinquei de conde-conde com a Alice e o Bruno, bebi cerveja com os tios, o Renato cuidou da trilha sonora (tanto no iphone quanto no violão ao vivo), brincamos de amigo secreto e foi engraçado, o ennzo participou, a tamy jogou wii com ele e o Marco, a Nanala foi energética como sempre, foi ótimo!

Isso sem contar a comida... hm, água na boca! O chester do Odilon... por mais que ele tenha esquecido os miúdos dentro (nunca tinha feito um chester antes), estava muito gostoso, derretia na boca, quase não dava para cortar. Excelente. A farofa e os arroz... Puxa, como eu gosto dessa comida natalina.

E as cerejas? Elas sim são meu presente de aniversário!

Obrigada, mundo. :)

Natal Salles

Esta aqui é a graça que eu adoro, que eu guardo do natal Salles na casa da Téte. A gente chega lá à 1h da manhã e o pessoal está animado, tocando e cantando um monte de mpb, antigas e novas, algumas compostas por eles mesmos, outras clássicas, outras desconhecidas. A gente canta, ri, se diverte, come a sobremesa, bebe vinho e compartilha carinho, com uma família que eu só vejo uma vez por ano.

Uma favorita é uma marcha de carnaval de 1984, quando um grupo de pessoas da Vila Madalena (meus tios entre eles) invadiu o desfile oficial (que passava pela Vila) cantando esta marchinha:

Em mil novecentos e oitenta e quatro
um glorioso arqueólogo
descobriu entre a fidalga e a wizard
uma catacumba milenar.

Chamaram tod'os neguinhos
e começaram a cavocar.
Tiraram a tampa da tumba
e do fundo do poço
ouviram um grito de arrepiar:

Que porra é essa?
Exclamou o faraó
Ôo Ôo
Tira a mão das ataduras,
me devolve a dentadura,
senão eu viro pó!

Em mil novecentos e oitenta e quatro
um glorioso arqueólogo
descobriu entre a fidalga e a wizard
uma catacumba milenar.

Chamaram tod'os neguinhos
e começaram a cavocar.
Tiraram a tampa da tumba
e do fundo do poço
ouviram um grito de arrepiar:

Que porra é essa?
Exclamou o faraó
Ôo Ôo
Tira a mão das ataduras,
me devolve a dentadura,
senão eu viro pó!

Na tal da vila todo mundo bebe,
na tal da vila todo mundo fuma,
na tal da vila todo mundo come,
e à meia noite nós viramos lobisomem

Em mil novecentos...!

A parte legal da história é que justamente no momento em que o apresentador começou a pedir pra escola clandestina se retirar do desfile, entrou o refrão da música com o "Que porra é essa?!"

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Gente, vi o Paul McCartney ao vivo...

Gente, eu vi o Paul McCartney ao vivo e não estou acreditando. Agora vou poder contar pros meus netinhos que eu vi um Beatle ao vivo. Vi ele sorrir, dar pulinhos, dançar, brincar com a platéia de 64 mil pessoas e cantar um monte de músicas que eu amo. Vi vários dos seus jeitinhos, que não mudaram desde os anos 60, quando os Beatles ainda existiam.

Aliás, a maior parte dessa platéia de 64 mil pessoas não era nascida quando os Beatles se separaram (inclusive eu). Incrível, né?

Hoje tive alguns outros primeiros:

Primeira vez no estádio do Morumbi.
Primeira vez vendo uma multidão colossal de cima (posso dizer que foi a vez em que vi mais pessoas na minha vida).
Primeira vez em que vi uma Ola colossal em arquibancada de estádio.
Primeira vez em que participei de uma Ola tão grande.
Primeira vez num show grande.
Primeira vez em que eu entendi o que é um ídolo.

Gente, eu vi o Paul ao vivo. Ou, mais importante, ouvi.

O Paul é provavelmente o cara mais simpático, fofo e talentoso vivo.

Gente, eu vi e ouvi um Beatle ao vivo.

Cantei com ele. Ri das piadas dele. Fiz graça para ele, junto com a multidão, fiz os barulhos estranhos que ele mandou. Ele tocou Eleanor Rigby.

Ele fala português bem, com os erres paulistanos bem redondinhos.

Ele é o Sir Paul McCartney.

Gente, eu vi o Paul tocar ao vivo. :)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Padrão de beleza

Eu nunca parei para pensar em algum motivo específico de eu achar mulheres morenas tão mais bonitas que as loiras (em geral). Sempre defendi o seguinte argumento: o cabelo loiro suaviza as feições, então mesmo as loiras não tão bonitas acabam parecendo mais bonitas. No entanto, justamente porque o cabelo moreno destaca os traços, uma morena bonita será sempre mais bonita que uma loira bonita.

Mas o que acontece é que eu realmente prefiro as morenas, independente de quaisquer teorias, e hoje eu estava pensando no porquê disso.

Comecei com minhas heroínas infantis e infanto-juvenis: Jeniffer Connelly em Labirinto, a Laura Ingalls, a Megera Domada, a Jasmin, Pocahontas, Mulan, Zetta-Jones em Zorro, até mesmo a Natasha em Vamp... minha mãe, minha prima Puca. A Marion de Robin Hood, a Morgana do Rei Arthur, Arwen. Jo das Mulherzinhas, Fleur dos Forsythe. Matilda.

Já as loiras: Bela Adormecida, Cinderela, Mary do jardim secreto, Mary da Laura Ingalls, Gwynevere, Cachinhos Dourados, Rapunzel. Talvez precise de ajuda para lembrar de mais.

A Princesinha se salva bem. Era loiríssima e eu a admirava, assim como à Polianna. A pequena sereia Ariel é um caso dúbio, por ser ruiva... Mas dá para notar a diferença? Para mim, as loiras estavam sempre precisando ser resgatadas, eram frágeis, enquanto as morenas não se intimidavam e muitas vezes participavam ativamente da história.

Também me lembro que durante um longo tempo, eu era a loira do meu meio. Porque a Puca era a minha companheira de aventuras, e era morena, e forte, tomava as decisões, e eu a idolatrava. A Marina, mais loira que eu, era a que devia ser protegida. Sabe o que é engraçado? Tanto eu como a Má gostávamos de ser as meninas fortes, e a Puca gostava de ser a princesa, gostava de ser feminina. Eu queria ter cabelo preto e cacheado, queria vestir macacão e ajudar a montar telhado ou cortar cana. A Marina queria se livrar dos vestidinhos e saltar de pedra em pedra, como Mowgli (outro moreno). Ainda bem que a Renée Zelwegger e a Scarlett Johansson apareceram para me ajudar a amar as loiras fortes também!

Claro que hoje em dia consigo olhar para as pessoas e tentar ver através das suas aparências, mas que o preconceito está em algum lugar do meu subconsciente, está. Fica interferindo na primeira impressão. Interfere na minha compreensão de uma personagem fictícia.

Pelo menos hoje em dia me sinto feliz de cabelos castanhos. A maior parte do tempo!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Natureza x Inteligência

Na verdade, esse foi o motivo pelo qual eu sequer cliquei no botão "publicar nova postagem" hoje. O eco4planet é minha página inicial faz um tempo, e sempre tem artigos interessantes no seu blog.

Hoje, descobri (mas já desconfiava) que os peixes são afetados pela poluição sonora nos oceanos, o que me deixou infeliz, tentando imaginar uma forma de contrabalançar esse efeito, tentando imaginar formas de reduzir o impacto da ocupação humana, e ao mesmo tempo tentando imaginar qual seria a alternativa aos sonares que usamos em barcos hoje. Essa infelicidade durou pouco, porque também li que a Nokia está lançando um carregador de celular que funciona em bicicletas (pedalando acima de 6km/h). Pode parecer um nada, mas achei lindo. Mas o que me fez mais feliz ainda, foi esta matéria aqui:

Bactéria presente no solo pode melhorar o aprendizado e reduzir a ansiedade

Sabe o que diz? Ratinhos que ingerem essa bactéria conseguem resolver problemas com muito mais facilidade que ratinhos que não ingeriram. E outra coisa, há efeitos a longo prazo, mas são reduzidos. Para manter o "coeficiente de inteligência" alto, é preciso se expor freqüentemente à bactéria. O que ela faz não ficou muito claro, além de que "pode estimular o crescimento de alguns neurônios e melhorar a capacidade de aprendizado" e "que ratos que receberam os microorganismos mortos aumentaram seus níveis de serotonina e diminuiu a ansiedade".

Ou seja: crianças que brincam na terra, na lama, no mato, que inalam essas bactérias com freqüência... têm um estímulo de aprendizado. E melhor ainda... aparentemente, os adultos também. Ou seja, vamos viajar pro mato! Vamos criar nossos filhos no mato! Consegui a desculpa perfeita!

Feriado

um pequeno resumo dessa semana, que foi boa:

na terça, assisti Alice, e gostei muito.

na quarta, cheguei em casa e jantei sozinha com a mamis, abrimos um vinho e ela falou que queria ir no cinco a seco comigo e com as meninas. escrevi uns 3 minicontos.

na quinta, foi o dia mais chato em muito tempo, eu não queria fazer nada na internet, fiquei bodeada o dia inteiro, até que descobri uma flashmob pra ir às 17h, e ao mesmo tempo os meninos ligaram para perguntar qual era o programa do dia. fomos no bowl in jaguaré, que é boliche, fliperama, jogos diversos (pebolim, sinuca), videokê, lanchonete. fomos Marcos, Fê, Caio, Alex e eu. foi bem divertido, jogamos duas partidas de boliche, dançamos no DDR (lógico que fui mal, simplesmente não tenho essa coordenação toda), tomamos um chopp, depois fomos pro videoke. cantamos algumas músicas, e o caio até conseguiu me fazer dançar, não pareceu tão impossível quanto da última vez que tentei. terminamos a noite no Finnegans, com a Polá, Sara e Diego.

na sexta, acordei tarde, meu avô veio almoçar em casa, fiquei na sala com ele, assistindo tv com meu note no colo, conversamos um pouco, mas ele logo dormiu. minha mãe saiu para levar meu vô na farmácia e pra casa, e quando ela me disse que a marina não atendia o telefone, fiquei preocupada e me lembrei que não falava com a má desde as 16h do dia anterior (e ela estava com um carro). mandei uma mensagem pedindo notícias, e liguei pro Diogo (ela deveria ter ido assistir filme com ele à noite), mas ele não sabia onde ela estava, nem com quem. depois de um momento de desespero da minha parte (no qual pensei em hospitais, delegacias, sequestradores, e me forcei a ficar calma), ligamos pro Poro, que deu o telefone do Shalom e mais os nomes de alguns amigos que poderiam saber onde ela estava. Felizmente, ela estava com o Shalom, vindo pra casa, e pediu desculpas por não dar notícias. eu só fiquei feliz por ela estar bem, e me lembrei de que más notícias chegam rápido. a vivi chegou cedo, ficamos assistindo friends e esperando a janta. a má chegou, fez as malas pra viajar, saiu, a mamis chegou, jantamos e fomos pro cinco a seco mais cedo que o normal (afinal, estava chovendo e ia lotar o saguão de espera do show). esperamos tomando um vinho, vimos os pedros e o dani chegarem, conversamos, foi bom. sentamos novamente na primeira fila, e o show foi lindo, mesmo o pequeno defeito que deu na "deixe estar". depois, vinho e papo na casa da mamis, voltamos, a vivi dormiu aqui.

sábado foi tranquilo, acordei tarde, assisti "o jardim secreto", fizemos fondue no winesday, acabou vindo bastante gente, muito gostoso. acabei ficando um pouco enjoada do vinho, mas não teve problema. o pessoal foi embora lá pelas 2h30.

domingo foi sussa, filmes, gatos... ah, é, na quinta eu também fui à cobasi, e lá, curiosamente, tinha um porsche conversível no estacionamento. completamente anacrônico (ou o similar para fora de lugar). fiquei imaginando que tipo de animal o dono desse porsche teria, e no final rasguei um pedaço do meu cupom fiscal (para não dar meu CPF junto), escrevi um recadinho bem humorado e deixei no vidro do carro. sem telefone nem nada, não me entendam mal. só pensei que merecia uma pequena piada, e talvez a pessoa sorrisse ao ler. enfim. domingo à noite fomos ao cinema no bourbon, assistir "sex and the city" e comer no outback. o filme tinha potencial, mas aparentemente algum sheik fez um patrocínio que levou as personagens para o oriente médio, nas roupas mais ridículas que eu já vi, com a história mais fraca possível. ainda bem que as batatas, cebola e costelas do outback compensaram tudo.

No final, fiz menos trabalho de francês do que deveria ter feito, e agora tenho que terminar. Acho que hoje foi um post bem "diário de menina", né? Mas às vezes é bom anotar para lembrar alguns dias assim.

domingo, 23 de maio de 2010

Petites Planètes

Um tempo atrás, eu achei por acaso uma foto linda, e descobri o mundo dos small worlds, petites planètes, ou projeção estereográfica.

Basicamente, você tira uma fotografia panorâmica 360 graus, do nadir ao zênite, e depois rotaciona em torno do nadir, deformando conforme a parte superior se estica para fazer a rotação. Fica uma coisa linda, como esta:


(tirada desta galeria)

Os pequenos planetas lembram algo do pequeno príncipe, e eu não consigo evitar a sensação de magia que emana deles. Tem uns tão lindos, outros misteriosos, outros que mostram uma vida de cidade grande, outros despovoados... Porcurem no google! Vou colocar aqui alguns links de planetas que eu gostei, dos que encontrei hoje, mas ainda não achei de novo o planeta que até agora foi o meu preferido, o mais caricato.

Este aqui é uma linda catedral à noite... e este é uma pitoresca vila de pescadores. Explorem o álbum para mais alguns que são lindos, e principalmente urbanos, como este em Veneza.

Gosto particularmente do aspecto de conto solitário deste, da árvore e casinha deste, o aspecto de eclipse que temos neste... Este é uma vilinha medieval, este tem um campo bonito, e este é pouco maior que a raiz das árvores que sustenta. Também gosto deste jardim (by beeloba), mas se eu for colocar todos os que eu gostei, não vou acabar nunca.

Também há os que começam a fazer coisas diferentes, como esta, e há os que rotacionam em torno do zênite, fazendo túneis assim.

Aqui tem um video de uma divulgação de um evento, que usa alguns planetinhas.

É isso, só queria compartilhar com vocês.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Domingo

Domingo foi um dia bonito.

Fui pegar o Trem das Onze na Luz, com meu pai. Passeamos no parque da Luz e fomos na Pinacoteca. Comemos coxinha e conversamos.

Depois, o Ziza veio aqui em casa, com Alê e filhos. O Bruno chegou primeiro no portão e já perguntou se a Alice estava aqui. Não. Ele é uma gracinha. Depois, quando eu estava assistindo o Ennzo jogar videogame, o Ziza sentou do lado e ficou conversando comigo. Sobre o coração.

Sabe, família é o máximo mesmo. Quem imaginaria meu tio me dando esse tipo de apoio?

Fora isso, ainda estou gripada. Aposto o que vocês quiserem que é psicossomático.

Isso quer dizer que até amanhã ou depois eu saro, porque cansei.

Ditado

Sabe, eu nunca acreditei quando as pessoas diziam "longe dos olhos, longe do coração".

Sempre tive pessoas muito entranhadas no meu coração que estão indeterminadamente longe dos meus olhos.

Mas agora talvez seja a hora de aprender a fazer esse ditado virar verdade.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Noite

Esta noite de hoje está fria, e minha garganta dói. Mas achei o reminiscente de uma outra noite mais bela, de tanto tempo atrás, novamente 2003.

Noite

Ah... o ar da noite é pura magia.
Esse cheiro de dia terminando, esfriando, as emoções acalmando, Deus não podia ter inventado coisa melhor que esse suave frescor... O cheiro que vem no vento é tudo, é nada, é um pouco da vida da gente, tudo isso catalisado e acalmado, o burburinho vai diminuindo paradar lugar às atividades delícias da noite... barzinhos, banhos, cafés, livros nas varandas... e as baladas, com suas meninas ensandecidas, rapazes instintivados e drogas e música e loucuras, as baladas se isolam desse ar sadio, mas dele aproveitam a escuridão e a diversidade de vida que por ele passou.

A noite é dos corações inquietos.
É da lua. Das corujas. Dos automóveis. Das pessoas e dos cães vadios... A noite após a pizzaria foi a Paulista e seus carros exibicionistas, os recantos entre os prédios, os riacho entre as flores, conversa ao luar, violão no coração de São Paulo.

A noite é mãe de amores, é avó de paixões, babá dos enamorados. Cuida dos gatos nos telhados e dos mendigos dormindo sob as barracas nas quais de dia vendem artigos mil.

É a noite.

A noite me traz uma melancolia repleta de satisfação.
E meu irmão me traz uma serenata de amor.

domingo, 9 de maio de 2010

Janela

Vou colocar aqui um texto que escrevi anos atrás, mais precisamente em 2003. Até é baseado em fatos reais, mas é principalmente uma obra literária.

Janela

Do meu telhado, eu vejo uma janela. De fato, vejo muitas. Algumas sempre abertas, outras nunca. Há aquelas com flores, e as sisudas, as cheias de gatos. Aquela uma, porém, é mistério. Havia um dinossauro de montar fosforescente. Sumiu. Havia uma guitarra. Desapareceu. Inúmeras vezes as venezianas abertas me mostraram as portas escuras do armário aberto. Ainda outras, roupas no peitoril.

No entanto, nunca nela vi gente. Gente nenhuma. Movimento nulo. Mistério.

A janela me observava. Eu andava no telhado. Cantava com minha irmã. Jogava bola. Buscava bola. Fazia churrasco. Varria. Chovia. A janela me observando, sempre.

Ela sabia de meus segredos, dos choros secretos nos recantos das telhas, das músicas alegres, das lições de matemática, e eu, que sabia dela? Sabia que era puro medo, um olhar sempre presente, avassalador.

Passaram-se anos.

E ele me vira: você é minha vizinha!
Eu: hein?
Eu já te vi no telhado!
Mas como?
A janela é minha.

Os minutos. Ele sabia de tudo de mim. O que eu sabia?

Era seu o dinossauro da janela?
Ele: nossa.
Medo.

Era tudo o que eu sabia. Ele sabia tudo. Mas ele invadia o telhado, eu invadi o quarto. Surpresa.

Por que no telhado?
Por que o dinossauro?

Encaramo-nos. Insustentáveis. Dois que se sabiam em detalhes indizíveis e insabíveis. Começo de tudo?

Fim de tudo.

Não subi no telhado.
Ele fechou a janela.
Mudamos de casa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Comentário sobre a polêmica

Acho que eu não deixei claro o quão carnal, pessoal, selvagem, visceral, absolutamente individual, é a decisão da mulher sobre seu próprio corpo ou seu próprio filho.

Não consegui passar exatamente meus sentimentos no assunto, mas fica pra próxima.

PS: Ná, saudades!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Polêmica

Hoje eu estava lendo sobre um dos temas mais polêmicos da humanidade atual: o aborto.

Aparentemente, o cerne da discussão gira em torno de se definir em que momento da gravidez o feto é considerado uma vida humana ou não. Digo vida humana, porque se formos defender o direito à vida, não podemos comer nem plantas. Há os que digam que a partir do momento em que houve fecundação, o feto já é um ser humano e, portanto, torna-se assassinato eliminá-lo. Há os que digam que isso só passar a ser assim a partir da 12a semana, quando os receptores neurais já estão mais desenvolvidos.

Sinceramente, andei lendo descrições do procedimento de aborto de bebês mais formados e fiquei um pouco horrorizada - a partir do momento em que se deve parti-lo antes de retirá-lo... já se torna demais para mim.

Mas essa sou eu. O que andei pensando é que o fato da discussão girar em torno disso talvez seja uma intelectualização absurda de algo que é muito mais inerente à natureza. E apesar de saber que há muitas mulheres contra o aborto, ainda acho que não deixa de ser uma discussão um tanto machista. Para mim, é essencial o sentimento da mulher nessa história. Sendo mulher, eu sinto que alguém que fosse forçada a gerar e criar um filho que ela não quis, é bem possível que rejeite a criança. Eu, pessoalmente, acho que não rejeitaria, mas consigo entender plenamente o sentimento, e nunca forçaria uma mulher a ter um filho.

Na natureza, os animais matam filhotes recém nascidos o tempo todo. E não são só os defeituosos - eles matam se há filhotes demais para o número de mamas, se a comida está escassa, ou por motivos que nem desconfiamos - simplesmente se deitam sobre a cria. As mulheres humanas praticam abortos aos milhares desde que existe tradição oral. Desde sempre existiram ervas, mandingas, procedimentos dos mais diversos. Desde sempre, as mulheres arriscam a própria vida para não gerar filhos.

Como é que você vira para alguém e diz - se vira, inche, engorde, tenha enjôos, sue, coma feito uma condenada, largue os estudos, saia do trabalho, desista dos seus planos dos próximos 5, 10, 20 anos, chore, se sinta mal, passe pela dor do parto, ganhe um bebê, tenha as dores da amamentação, arranje novas amigas, procure escola, pague a escola, dê vacinas... Esqueça a sua vida em prol dessa pequena célula que está aí dentro de você.

Lógico, você fez besteira, você que se vire - com isso eu concordo. Mas eu não vou nunca forçar ninguém a ter um filho. Por mais que a experiência seja maravilhosa, a dor de cabeça também é, e você tem que estar preparada para aceitá-la. É uma tarefa enorme, que vai durar o resto da sua vida.

Sem contar que o aborto é um problema de saúde pública. Hoje, a maior parte das organizações pró-aborto procuram reduzir os problemas que ocorrem devido a abortos ilegais e mail feitos, mais do que querem realmente defender a idéia de que um feto é ou não é um ser humano.

Hoje em dia, minha posição é essa: eu não recomendo o aborto, mas acho que a mãe deve decidir. Se eu tiver a oportunidade de argumentar com a pessoa, vou tentar convencê-la a manter o filho, mas obrigar, nunca.

Lógico - aqui no Brasil o aborto é ilegal. É crime, assassinato. São palavras fortes o suficiente para pesar na consciência de qualquer uma.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Ô, vida

Às vezes é complicada demais.

Hoje foi um dia interessante. Redescobri uns escritos de uma época antiga, 2003 para antes. Essa parte foi boa, me lembrou de paixonites antigas e outras não tão antigas, começo de namoro e até dúvidas da época. Me deixou com um gostinho bom de nostalgia na boca.

Conversei um pouco com a Má, ouvi uma música legal no YouTube, e decidi que ia ver Avatar, porque afinal deve ser a última semana em que isso está no cinema.

Essa foi a parte um pouco mais chata, a de decidir, porque eu ia ver com o Alex, mas nunca chegamos a ir. Tentei ligar pro Caio às 19h30, a sessão era às 20h40, e ele estava na aula. Fiquei de bode, quase desisti, mas peguei a bolsa para sair, na sala tive a idéia de avisar/convidar meu pai, e ele foi comigo.

Gostei do filme, lógico que adorei os animais, a ligação linda que eles fazem com as pessoas, fiquei um pouco chocada com o tanto de mortes, de ambos os lados. As mortes humanas ficaram um pouco desvalorizadas, para um povo que prezava tanto a vida.

Anyway. Boanoitetchau.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ser designer - parte II

Vou começar citando a Marina, porque ela escreveu uma coisa que venho sentindo desde que voltei pro mundo blog, e espelho completamente seus sentimentos:

"Hoje eu li o blog da minha irmã e resolvi deixar um comentário. É meio engraçado como mesmo que não nos encontremos ou conversemos tanto assim sinto que nós duas estamos sempre em sincronia. Vivemos coisas diferentes, tomamos decisões diferentes, mas eu quase sempre me identifico muito com o que ela pensa. É meio difícil isso de estar tão próxima de alguém que tem uma vida diferente. Acho que é difícil não querer às vezes estar na pele dela. É claro que sinto esse tipo de coisa em relação a todas as pessoas que admiro, mas é mais freqüente neste caso."

E vou continuar comentando no que ela disse no blog dela. Isso é pra Mali, para meus amigos designers ou arquitetos, para minha família, ou qualquer um que se interesse.

Sou péssima em projeto.

Sou mesmo. Eu me acho inteligente, tudo bem, e acho que consigo enxergar as coisas de pontos de vistas variados, gosto muito de pensar nos processos e nas pessoas, acabo fazendo projetos porque preciso (no escritório ou na vida). But I suck at it. Sou boa analista, consigo chegar em um programa razoável, consigo enxergar consistência ou não, posso pensar em dez formas diferentes de resolver um problema - mas não consigo sair de uma folha em branco sem me forçar às lágrimas. Quando começo, preciso criar umas 15 opções que são tudo - feias, desajeitadas, molengas, inadequadas, completamente erradas, sem graça, sem vida, parece a mesa de centro da bisavó, ou então é amalucado sem razão de ser, inconsistente. Preciso desenhar sem pensar (e aliás não desenho bem), e preciso olhar para os desenhos sem avaliar muito - ou acabo desistindo. Até chegar em uma solução que eu não deteste.

Projeto é uma tortura infinita.

Depois, com avaliação do orientador (teve um que chegou a rabiscar coisas no meu desenho), fica mais fácil, pois entro na parte que eu consigo fazer - avaliar, pesar critérios, modificar, melhorar. E mesmo assim, cada vez que isso significa uma reestruturação do desenho, é penoso. Nunca tão penoso quanto o começo, mas ainda assim horrível.

Só consegui levar a FAU porque a maioria dos trabalhos era em grupo, ou ao menos duplas. Com feedback, com outras pessoas para dar pitaco e rabiscar junto, tudo fica infinitamente mais fácil. Ou seja, fica até factível. Mas, como eu disse no sábado, prefiro não projetar. Prefiro usar o que eu sei fazer, e aquilo no qual me considero até boa - coordenar, pegar as idéias boas e organizar, resolver problemas, trabalhar com gente, não com o projeto em si.

Vou dizer que era frustrante ver os outros alunos com desenhos razoáveis em algumas horas, e eu conseguindo definir uma planta que prestava depois de semanas. Muitas vezes pensei em desistir. Só não desisti porque tinha o Alex, as pessoas, e eu ainda acho projeto uma coisa linda. Mas tudo bem - eu sempre soube que arquitetura seria difícil - sempre. Escolhi o curso porque era algo em que eu teria dificuldade - e muitas vezes me arrependi. Fugir do seu talento nem sempre é a melhor idéia, nem para você, nem para o mundo.

Não que eu não tenha me encontrado lá, de certa forma. Mesmo dentro do paisagismo - cujo desenho é uma derivação quase direta do programa - o que facilita muito. Só espero conseguir cantar na minha própria nota. Não busco mais nada. (como se fosse pouco...)

sábado, 10 de abril de 2010

Ser designer

Sabe, arquiteto é um tipo de designer. Ou melhor, arquitetura foi a origem do design, e com o tempo as pessoas descobriram que dá para formar designers sem precisar ensinar toda a carga de coisas que só servem para arquitetura.

É engraçado quando a gente percebe que nossos amigos muitas vezes não sabem para que servimos. Quer dizer, todo mundo já veio me falar que um dia eu vou projetar a casa deles, claro, e obviamente eu concordei. Ou para fazer reformas. Beleza.

Mas o que muitos não sabem é que nós também podemos projetar seu site, seu livro, sua revista, sua embalagem, até mesmo seu software ou sua estrutura empresarial. Fizemos uma faculdade de projeto para isso. Não que eu entenda muito de estrutura empresarial, mas passei anos aprendendo a pensar nas pessoas, nos processos humanos, aprendendo a processar o máximo de informações possíveis para desenvolver idéias, aprendendo a sintetizar conhecimentos para criar projetos, aprendendo a trabalhar em grupo, aprendendo processos de projeto.

Lógico, cada pessoa tem seu jeito de lidar com as coisas. Há arquitetos formados que são excelentes em acompanhar obras, outros que são bons em projetar residências, outros que se especializam em design gráfico, outros que são fotógrafos. Mas teoricamente todos sabem projetar, a mudança do tema só muda a velocidade na qual o projeto anda, e o número de pessoas na equipe (projetar uma residência é relativamente rápido - pois todas as informações estão na nossa cabeça - já projetar um estádio requer estudo e possivelmente consultas a especialistas do esporte, de estruturas metálicas, etc).

Lógico - quanto mais conhecimento acumulado na sua cabeça, mais você amplia a sua gama de prática de projeto.

Particularmente, eu não faço questão de projetar de fato - preferia ser coordenadora de projetos, talvez até arquiteta da informação.

O engraçado de hoje foi - uma amiga precisava de uma opinião alheia sobre uma revista, e, nenhuma de nós tinha notado antes, havia três designers capacitadas para dar opiniões informadas. Duas arquitetas e uma publicitária. Engraçado como ela não tinha pensado que podíamos servir para isso. Acho que nem nós tínhamos, até que ela mostrou a revista para nós e os genes designers vieram à tona.

É legal descobrir que podemos fazer por nossos amigos mais do que eles até pensariam.

Beijos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Pensamentos

Claro que não vão ser pensamentos dos mais felizes - por mais que eu esteja me esforçando para que a transição seja bela e indolor, não é a coisa mais fácil, e menos ainda por causa da falta de comunicação.

Um pensamento é sobre o Argos. Suas feridas voltaram, e agora minha mãe procura as unhas crescidas, olhos vermelhos, e os outros sintomas de doença. Temos medo não só por ele, mas por nós - o que faremos se ele realmente estiver doente. A recomendação é simples - put him down.

Outro é sobre a Lú. Cortez, essa mesma. Eu nunca imaginei que pudesse gostar tanto dela, num passado longínquo de terceiro colegial. Hoje em dia, seu riso fácil e tranquilidade me trazem um sorriso ao rosto quando a vejo. Ela é alegre e contagiante como flores ao sol do campo, não sei.

Outro é sobre amigos. Lindos amigos que vieram me telefonar, me chamar no gtalk, me dar apoio no facebook. Por mais que eu tenha momentos de profunda solidão, como na terça-feira, eu sei que se quiser tenho a quem recorrer. Mesmo a Polá, nossa, quanto tempo... Foram raios de luz. E sei também que há amigos mais tímidos, que só olham de longe, mas eu sinto... que não importariam de oferecer apoio. Obrigada a todos.

Outro é sobre o Alex. Acho que ele não se sente tão amparado e eu realmente queria muito poder mudar isso para ele. Ele é duro na queda, mas acho que precisa de alguém para conversar - e eu não sirvo mais. Sei que ele tem amigos, mas acho que nenhum dos lados sabe como abrir o caminho.

Outro é sobre chocolate: muito bom. Delícia comer chocolate lendo Nárnia.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

6 anos

Hoje faríamos seis anos de namoro.

6 anos. Meu primo está com 7 anos. É uma vida para ele. 6 anos é mais que o tempo de uma faculdade (exceto a FAU), é quase o tempo de maturação de um eucalipto, é um terço da nossa vida até virarmos gente perante a lei, é a idade em que as crianças passam da tradição oral para a escrita, é o tempo de vida de algumas plantas ornamentais, é o tempo que uma pequena palmeira cica demora para crescer e poder ser vendida, é a vida últil de uma galinha poedeira, é a idade que a Lolita tinha quando morreu.

É menos da metade da vida da Tigrinha (que está com 13 agora), é a idade que eu tinha quando a Giulia nasceu, é vinte anos a menos do que terei em dezembro.

Seis anos é muito tempo, e eu entendo que o Alex tenha achado que precisava parar aqui ou não pararia nunca. O que tivemos não era perfeito, e não lembro se já foi paixão enlouquecida. Era bom, mas como saber se era assim tão bom sem nunca conhecer outro tipo de relacionamento?

Foram seis anos bons. Espero que os próximos seis sejam ainda melhores.

sábado, 3 de abril de 2010

Xplosion

Olha.

Eu acabei de descobrir que talvez eu seja uma pessoa histérica em momentos de perigo.

Não que eu tenha reparado em mim mesma. No momento em que a nossa prosaica pintura de ovos cozidos foi interrompida por um *POC* e um chiado bem alto, olhei para as panelas (de onde pareceu vir o som), respirei fundo e não senti cheiro de gás (portanto era lá fora), e saí correndo. Berrei "PAAAI!!!" em direção ao quarto, e de novo em direção à garagem (não vi que ele estava passando atrás de mim), peguei minha bolsa e havaianas no quarto, passei na sala, vi que a Tigrinha ainda estava deitada no sofá, corri para pegá-la, alcancei todo mundo na porta da frente. Meu pai gritou para achar o telefone da Ultragaz, voltei pro computador, peguei um dos números e saí. Alguém tinha sumido com a chave do portãozinho e todos se sentiram meio estúpidos de estarmos fora da casa num espaço pequeno e sem poder sair pra rua, então fomos para o jardim. O cheiro de gás já estava subindo, eu e minha mão ligando pros bombeiros (deveríamos ligar pra Ultragaz - na próxima já sabemos). Enquanto eu ligava e discutia com uma mocinha que me disse para colocar o bujão em local arejado (imagine eu carregando isso - 3 bujões de 45 litros que já estão em local arejado), não acender a luz (deveria ter dito para não apagar também) e esperar esvaziar, minha mãe tinha colocado meu pai no telefone com outra atendente que o mandou checar o bujão e ver se dava para fechar a válvula. Ele desceu, com a respiração presa, fechou um, subiu, respirou, desceu, fechou outro.

Aparentemente um deles veio com pressão demais e estourou uma mangueira.

Ficamos lá fora, terminando os ovos, por uma meia hora, e a Marina me contou que eu parecia histérica. Ela ficou calma quando viu meu pai indo para o centro da confusão ver o que estava acontecendo. Pois é.

Aparentemente, tenho que aprender a ser uma pessoa controlada em emergências. Bolas. Eu tinha um ideal tão lindo de que eu poderia ajudar os outros ao invés de atrapalhar, e agora já não tenho certeza.

Não sou uma pistoleira - meu pai é. Minha irmã talvez seja também, sei lá. (referência de A Torre Negra)

C'est fini

Puxa, eu tinha tanta coisa para comentar sobre esta semana... Mas desde ontem, só uma importa: c'est fini, Alex et moi.

Depois eu explico. Não me liguem hoje - estarei no sítio.

Beijos inchadinhos de lágrimas.

domingo, 21 de março de 2010

Escrevinhar

Sabe,

Acho que eu sei porque gosto mais de escrever RP do que simplesmente escrever. Toda a minha produção literária dos últimos anos foi nesse formato. Antes, eu escrevia contos, começos de histórias, sonhos, e até poesia. Mas nunca achei que eu fosse capaz de escrever uma história do começo ao fim, nem nunca tentei. Nunca tive uma história dentro de mim, sempre só um começo, idéias de por onde o caminho passaria, mas jamais o nó, o objetivo, a relação entre as personagens e a trama, jamais uma trama. Quando imaginava histórias com a Marina, sim, começávamos a ir mais longe... e sempre acabava no esquecimento. Não que eu me importasse muito. Meu amor não era pela trama em si, mas pelas personagens, por suas possibilidades, pelo que amavam e faziam. Acho que nunca quis realmente escrevê-las para não definir seu futuro.

No roleplay, é diferente. O futuro não precisa nem deve estar definido. Criamos as personagens, fazemos com que nasçam em um mundo conhecido (o mundo do battlemaster.org é muito interessante para isso), e conforme escrevemos suas histórias o mundo revolve ao seu redor. Existem alguns milhares de outras personagens, escritas e comandadas por outras pessoas, criando um quê de imprevisível nisso tudo.

Criei a Guerreira Ilya, que protegia os indefesos e estava livre para lutar agora que um filho homem havia nascido de seus pais. Desde 2007, Ilya aprendeu estratégias de guerra, aprendeu a proteger os fracos, apaixonou-se por um cavaleiro que respondia com muita calma às suas perguntas, ajudou sua irmã a fugir de casa, tornou-se Baroneza, casou-se em um torneio, com dezenas de nobres vindos de toda a parte para a cerimônia, teve dois filhos, tornou-se uma estudiosa, fez amizade com inimigos em campo de batalha, tornou-se diplomata, viu seu marido tornar-se Duque, foi eleita Rainha do reino que amava, perdeu o trono, reconquistou-o, viu seu reino ser despedaçado por seus inimigos, e no momento está viajando, sem saber bem se deve dar vazão ao seu sentimento de vingança ou aposentar-se da política.

Ilya deixou de ser guerreira há muito tempo. Sua vida e o que ocorria ao seu redor forjaram sua personalidade mais do que eu pude conceber com minha idéia inicial de quem ela era. Sua irmã, Vanya, começou como a intelectual, que seria burocrata e mentora, para se tornar guerreira implacável, muito mais do que a misericordiosa Ilya jamais poderia ter sido. Amou, teve uma filha sem oficializar a união, e agora, quando já não pode estar sempre em campo de batalha (pois eu mesma não posso entrar no jogo o suficiente para acompanhar o restante do exército), tornou-se a Banqueira do reino, garantindo que os camponeses estejam bem alimentados, favorecendo discretamente os nobres que lhe são leais, treinando sua filha para a guerra em seu lugar.

Muita coisa do que aconteceu a elas foi minha culpa. Às vezes o simples fato de que eu não pudesse responder uma carta à tempo, ou não pudesse perceber uma entonação possivelmente insultuosa de minhas palavras (por mais que eu escreva bem em inglês, ainda falho um pouco nas entonações e sutilezas das expressões)... Coisa que nenhuma delas faria conscientemente, sendo tão inteligentes quanto eu as imagino. Apesar de que Vanya causa constantemente problemas diplomáticos por gostar de fazer piadas: é uma guerreira implacável que tem muito bom humor e adora uma boa cerveja. Infelizmente o humor de seus interlocutores nem sempre entendem o que ela quer dizer: as percepções humorosas variam muito de nação para nação.

É assim: elas só são tão inteligentes, espirituosas, implacáveis ou rudes quanto eu mesma consigo ser. Se eu falho em pensar numa rudeza de fato, não posso controlar a reação do outro, pois não é uma personagem minha.

Existe essa duplicidade, de onde termina a personagem e onde começa a capacidade da Talita. Ao mesmo tempo, a personagem se desenvolve lindamente, afetada por fatores internos e externos, muitos fora do meu controle. Além disso, há o que aprendi sobre minhas próprias limitações, o que será assunto para algum outro post.

Eu diria que a chave da minha preferência é justamente a imprevisibilidade, a falta de controle sobre o futuro, e o fato do final estar sempre à frente, aberto, possível. Gerações substituem as outras, em um épico lindo que não tem fim.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A vida do Argos

A vida do Argos (Argus segundo minha mamis) é uma vida pacata. Fica em casa, corre até o portão quando chega o verdureiro, corre latindo quando chega qualquer um, brinca com o Fumaça, pede carinho, come, deita, dorme, nos olha com olhinhos melancólicos.

Ah, e tem alergias. Cutâneas, principalmente, várias.

E agora, talvez tenha uma doença incurável. Não temos certeza ainda, pois ele só deu positivo para dois testes de reagência, mas se fizermos o teste final (de medula) e der positivo, ele deve ser sacrificado... É possível que não dê positivo.

Não sei se vamos fazer ainda. A doença tem incubação de até dois anos, e o possível contágio teria se dado há quase dois anos. Assim sendo, talvez esperemos mais alguns meses para ver se ele mostra sintomas. O que são mais alguns meses de vida pacata? Se mostrar sintomas, não tem jeito. Se não mostrar, podemos fazer o teste com um pouco mais de tranqüilidade...

De qualquer forma, não estamos prontas para dar adeus a ele tão cedo. O próprio veterinário falou que não sabia o que faria se fosse o seu cão...

É isso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Coisas que se passam

na minha cabeça.

Estou no oitavo ano da FAU. Oito anos. Estou há seis anos com o Alex (ou quase, já que é em abril que fecha o ciclo). O cavalo do sítio está com três anos. A Alice está com quase dois e meio. Me inscrevo no TFG há 2 anos. Eu só pisquei e cheguei aqui.

E o tempo passa tão devagar.

Eu sei que estou com um bloqueio imenso para fazer esse TFG, não consigo nem começá-lo, mas oito anos é demais e eu devia terminar a FAU logo. Chega, né?

Fiquei enrolando uma semana para começar a pesquisa do Trabalho Final de Graduação. Uma semana, e não fiz nada. Li um pouco de Janie Jacobs, mas isso não é diretamente relacionado ao meu tema, de drenagem urbana. Tema que eu escolhi, porque gosto muito. Escolhi por ter a ver com urbanismo, com os alagamentos em São Paulo, com a vida, com infraestrutura verde, arquitetura da paisagem e meio ambiente. Mas nem consegui começar a pesquisa.

Ao invés disso, li livros. E fui ao sítio sábado. Foi lindo, apesar dos pinheiros cortados. Andamos de barco e molhei os pés na represa. Fizemos planos. E o Ziza falou, como quem não quer nada:
- Talita, alguém precisa amansar este cavalo.
Claro que a besta aqui aceitou na hora. E passou os últimos três dias lendo, assistindo vídeos, pesquisando a infra-estrutura necessária, pensando onde construir um redondel no sítio, tentando descobrir os equipamentos utilizados, técnicas alternativas, cursos, e morrendo de vontade de começar no mês que vem.

Gastei bem mais que uma hora por dia pesquisando sobre isso, e nem um minuto pesquisando sobre o tfg.

Claro que pensar que eu, inexperiente do jeito que sou, domando um cavalo, me dá borboletas no estômago (amo esta expressão), e morro de medo de criar vícios no animal. Mas ele será um animal de passeio, não de esporte nem nada, então não tem tanto problema.

Ontem, encontrei a Loschiavo, professora da FAU de quem eu gosto muito, e ela perguntou quais são meus planos para o futuro. Eu pensei por um momento e respondi: terminar o TFG, depois disso, não sei.

Claro que eu não podia mencionar a idéia louca da fazenda, já que todos acham que eu estou viajando, e na verdade, a fazenda é meu plano futuro do futuro, não está concretizada na minha mente.

Pois é, não tenho planos. No que eu quero trabalhar? Sei lá. Um escritório é até legal, e eu gosto de projetar, mas eu queria mais... Eu queria ir pro Haiti. Mas o Haiti não vai me dar grana o suficiente para pensar na fazenda um dia, então tenho que ter um plano para depois do Haiti. Mestrado é um bom plano. Adoro estudar. Outra faculdade: letras, geografia ou pedagogia.

Agora, por que raios não consigo estudar para o tfg, mas consigo passar horas tentando aprender técnicas de doma na raça? Eu só fiz seis meses de aulas de equitação...

Eu ainda não sei se o que aconteceu ao longo da minha vida foi que eu sufoquei os cavalos dentro de mim, e hoje eles tentam escapar, ou se eu me agarro ao meu sonho de criança. Eu provavelmente vou gastar 100 ou 200 reais em CDs e livros sobre doma racional e horsemanship. Feliz.

O Fábio Mariz Gonçalves, meu orientador, comentou que não entendia a pessoa que dizia que amava arquitetura, mas você olhava a estante dela e só tinha livros de paisagismo. Pois é. Eu tenho um livro de arquitetura (Saber ver a arquitetura), um livro de design (Design like you give a damn), um livro de tecnologia (cujo nome eu esqueci), uns dois ou três sobre plantas, permacultura ou paisagem urbana, e umas 100 revistas sobre cavalos.

Estou estudando arquitetura há oito anos. Fiz um semestre de aulas de equitação. Amo urbanismo e a qualidade de salvação do mundo que tem no paisagismo e na arquitetura sustentável, e não acho que eu queira ser profissional do cavalo. Por mais que seja uma delícia, não tem como salvar o mundo lá. :) Mas eu não me importaria de fazer isso em meio período.

Além disso, vou fazer 26 anos no fim de dezembro.

Não quero chegar aos trinta sem ter planos. Só pensar nisso dói. Nisso, admiro muito a Paulinha, que sempre teve planos, sempre soube o que queria e sempre perseguiu seus objetivos, enquanto eu sempre fui perdida, desperdiçando minhas boas notas na escola.

Bom, é isso. Vou ter que pensar muito no assunto.

Ah, e eu tenho um sobrinho. Não dos meus irmãos, mas da prima que foi minha irmã até os 17 ou 18 anos. Ele deve ser lindo. Nasceu em dezembro. E eu não tenho coragem de telefonar.

C'est fini.