sábado, 26 de fevereiro de 2005

Mundo revolto

Engraçado como tudo volta. Acabo mesmo só escrevendo em momentos de aflição... poderia ter passado muitos e muitos posts falando de viagens, cinemas, meu namoro, meu lindo e ótimo Alex. Podia falar da viagem de dez dias para Floripa, do barco do Alex, do curso de fibra de vidro, do projeto de torradas e geléias e mousse de chocolate. Podia falar das tartarugas, dos girinos, de gatos e cavalos, podia falar de fotos e amigos, mas não falei.
Volto para falar de coisas triste, porque é o que preciso desabafar. É quando me sinto menos simples, menos vivendo, mais pensando e mergulhando nas coisas. É quando tenho coisas que me valem a pena falar para ser pouco ouvida e pouco respondida, e quando preciso pensar e dizer. Poderia ter mencionado minhas crises pequenas de auto-estima dos últimos dias, de meus motivos para fugir de competições e de jogos de blefe, mas não falei, eram coisas nas quais eu podia viver comigo mesma.

Mas ontem morreu o avô do Alex. Ontem morreu o avô da Gabi. Ontem morreu uma amiga da Nanala. Ontem choveu como eu nunca vi, o céu escureceu, o vento era absurdo, o dia virou noite, uma noite ululante, o som do vento nas folhas nunca foi tão feroz, e a chuva fustigava de todos os lados, as janelas, os cachorros, a cadeira de balanço que virou de ponta cabeça. Derrubou árvores e postes, desconcertou semáforos, muros e portôes, causou acidentes e alagamentos.
Eu não sei.
Mas tive medo da tempestade pela primeira vez. Tive medo que me levasse o telhado. Tive medos irracionais de coisas caindo e derrubando paredes. Tive medo de grandes desastres de discovery channel, um medo irracional da energia do mundo, essa energia que de repente ficou louca! O chão e as paredes tremiam, os lustres balançavam e a chuva entrou pela entrada de gatos da cozinha.

Ontem chorei de desespero pelo avô do alex, chorei de tristeza e abandono por esse menino que não parecia abalado, que eu queria ver, cuja mãe eu queria abraçar, ah, como eu gostaria de ter estado lá. Eu gostaria muito, mesmo sem saber o que eu falaria, mesmo sem conhecer ninguém daquela famí¬lia, eles possuem a coisa que no momento para mim é o que há de mais precioso. E eu chorei e liguei, quer que eu vá, não precisa, tudo bem, a gente ja estava esperando mesmo, e fiquei eu chorando sozinha, e fui ter com a mãe, e a mãe me abraçou e não me senti abraçada. E, e, e, e... cinco minutos e cai a chuva, chega a gabi, desce a escuridão, apaga as luzes, o avô dela tambem morreu, desliga o telefone, cai a arvore, é preciso lanterna para enxergar dentro de casa, as tartarugas vão dormir mais cedo, chuva chuva chuva chuva... Vento ooohouuuuuuu, as janelas tremendo, os vidros, Suyá, o jaboti, se esconde, as gatas miam, me seguindo, juntamo-nos todos no cômodo mais claro, o escritório, e o vento soprando, a chuva ventando, e clareia.

Hoje faz um dia bonito, mesmo que com pouco sol.
Ontem a chuva amainou e o marco foi para o metrô, e eu fui na cobasi e a marina voltou para casa e a nanala ligou pedindo que pegássemos a giulia porque ela tinha de ir a um velório. Pegamos giulia, marina e macdonald´s, comemos na varanda, à luz da descida da noite, para depois jogar o jogo da vida na iluminação de duas velas pequenas e eficientes, que acabaram por me queimar. O momento triste foi a volta da luz às dez horas, e a mensagem do Alex, To no velorio. Isso vai até as 11:00 da manha, hora do enterro. Depois talvez eu passe aí, ok?
Ok, boa sorte, te amo, deu meu abraço?, muito, beijo

Boa noite, dormi.

Sonhos horríveis e nem tanto, teve até o Felipe Dylon, se é que é assim o nome dele. Acordei terrível, queria ligar e fiquei com medo, medrosa que sou, odeio, mas sei lá. Tão fácil parecer tudo bem, olá, obrigada, bom dia, café da manhã.

Entendem? Aqui só vêm o difícil, o amargo ou apenas o indigesto.

Eu queria saber o que aconteceu com o mundo. Me pareceu um choque, um estrondo. Assustador. Cadê o Ita?

Beijos.
:: Enviado por pombalita
- 13:48:46 ::