quarta-feira, 13 de julho de 2005

Celma Cenamo...

Eu só queria falar, mesmo sabendo que pouca gente lê.
Minha avó morreu anteontem.
Minha avó fofa, gordinha, baixinha, que cantava cantigas de roda, que levava a gente para todos os lugares que a gente quisesse, com a qual trabalhei seis meses, com a qual brincava muito, muito, tanto... ela me dava muitos presentes, como dava a todos, e agora eu não consigo lembrar quase nada do que ela me deu.
Ela queria levar todos os netos pro Pantanal e eu não lembro de UMA viagem que tenha feito só eu com ela. Ela me viu algumas poucas vezes este ano, e no Natal a gente não fez amigo secreto... e eu não consigo lembrar qual foi o presente de amigo secreto que ela me deu! Porque ela se revoltou e deu dois presentes para todos... Acho que ela sentia que não ia viver mais um ano.
E no hospital ela ainda falou pro médico que tinha que dar aula de terça-feira.
Pelo menos a páscoa foi na casa dela.
Pelo menos ela foi para Brasília e viu gente que fazia muito tempo que não via. Pelo menos ela não deixou de aproveitar nada... acho que ela não suportou a doença (diabetes) limitar a vida dela, não parou de comer nada, não tentou emagrecer nunca. Não começou a fazer exercícios, não começou a ir ao médico com freqüência. Não fez nada de mudança na vida por causa disso. Nada.
E continuou rindo e dando carinho pra todo mundo... deixando todos bravos porque não se cuidava.
Ela queria ir ao sítio no final de semana em que ela foi pro hospital, mas a Nanala tinha recusado, "vamos no outro, mãe, este não dá!". Sexta-feira ela estava com dores, e não falou nada. Sábado passou mal e ficou quieta. Domingo teve um infarto grave, meus tios correram, ela toda suja, um drama horrível, minha tia e minha mãe foram primeiro pro hospital, no domingo à tarde parecia que ia ficar tudo bem! À noite, outro infarto, segunda acordei com minha mãe no telefone: "Tá, minha mãe está muito mal, estão operando e a hemorragia parece que não vai parar." Chorando, chorando. E eu levantei todo mundo pra ir pro hospital... Cheguei lá sem ter avó.
Todo mundo chorando. Todo mundo triste. "Ela desligou o telefone na cara da gente..." ela sempre fazia isso, nunca deixava a gente terminar de falar. Na sexta-feira ela tinha ligado para todas as irmãs. Todas! Imagine se ela não sabia? E provavelmente não queria mudar a vida para se cuidar.

Ai, Vó.

Vocâ teve tanta gente no seu enterro.
Tanta gente te amava. E eu também.

Muito.

:: Enviado por pombalita - 15:56:05 ::