Eu só queria falar, mesmo sabendo que pouca gente lê.
Minha avó morreu anteontem.
Minha avó fofa, gordinha, baixinha, que cantava cantigas de roda, que levava a gente para todos os lugares que a gente quisesse, com a qual trabalhei seis meses, com a qual brincava muito, muito, tanto... ela me dava muitos presentes, como dava a todos, e agora eu não consigo lembrar quase nada do que ela me deu.
Ela queria levar todos os netos pro Pantanal e eu não lembro de UMA viagem que tenha feito só eu com ela. Ela me viu algumas poucas vezes este ano, e no Natal a gente não fez amigo secreto... e eu não consigo lembrar qual foi o presente de amigo secreto que ela me deu! Porque ela se revoltou e deu dois presentes para todos... Acho que ela sentia que não ia viver mais um ano.
E no hospital ela ainda falou pro médico que tinha que dar aula de terça-feira.
Pelo menos a páscoa foi na casa dela.
Pelo menos ela foi para Brasília e viu gente que fazia muito tempo que não via. Pelo menos ela não deixou de aproveitar nada... acho que ela não suportou a doença (diabetes) limitar a vida dela, não parou de comer nada, não tentou emagrecer nunca. Não começou a fazer exercícios, não começou a ir ao médico com freqüência. Não fez nada de mudança na vida por causa disso. Nada.
E continuou rindo e dando carinho pra todo mundo... deixando todos bravos porque não se cuidava.
Ela queria ir ao sítio no final de semana em que ela foi pro hospital, mas a Nanala tinha recusado, "vamos no outro, mãe, este não dá!". Sexta-feira ela estava com dores, e não falou nada. Sábado passou mal e ficou quieta. Domingo teve um infarto grave, meus tios correram, ela toda suja, um drama horrível, minha tia e minha mãe foram primeiro pro hospital, no domingo à tarde parecia que ia ficar tudo bem! À noite, outro infarto, segunda acordei com minha mãe no telefone: "Tá, minha mãe está muito mal, estão operando e a hemorragia parece que não vai parar." Chorando, chorando. E eu levantei todo mundo pra ir pro hospital... Cheguei lá sem ter avó.
Todo mundo chorando. Todo mundo triste. "Ela desligou o telefone na cara da gente..." ela sempre fazia isso, nunca deixava a gente terminar de falar. Na sexta-feira ela tinha ligado para todas as irmãs. Todas! Imagine se ela não sabia? E provavelmente não queria mudar a vida para se cuidar.
Ai, Vó.
Vocâ teve tanta gente no seu enterro.
Tanta gente te amava. E eu também.
Muito.
:: Enviado por pombalita - 15:56:05 ::
quarta-feira, 13 de julho de 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Thanks Tá!
Thanks Tá!
Postar um comentário